
Início do namoro
Por ser Maria do Carmo uma moça recatada e possuidora de bons dotes físicos e morais, logo apareceu o Príncipe Encantado, arrebatando-a do convívio familiar.
Quem era Antônio Espínola Navarro, esse desconhecido?
O pretendente, o jovem Antônio Espínola Navarro (1910-1999), de tradicional família de Mamanguape/PB, embora nascido em João Pessoa, logo se apaixonou pela angélica mocinha, que, aos 16 anos, já era pedida em casamento.
Filho de Anna de Andrade Espínola Navarro (1882-1970), apelidada de Nanu, natural de Mamanguape, de prendas domésticas, e de José Arsênio Serrano Navarro (1880-1961), conhecido por Juca, também desta cidade, foi Procurador e Aferidor da Prefeitura Municipal da Capital, trabalho difícil de executar porque necessitava de fiscalização e deslocamento para regiões onde não havia estradas de rodagem. Assim, ele percorria, em cavalo, os Distritos de Gramame, Conde, Alhandra, Jacumã e Pitimbú, fazendo aferição e recebimento dos impostos, etc.
Avós paternos:
João Pinto de Morais Navarro e Maria Madalena de Pasi Serrano Navarro.
Avós maternos:
Rodolfo Alípio Espínola e Ana Aurora Barbalho Espínola.
Irmãos: Aluísio (in memoriam), morou no Recife e era radicado em Fortaleza; Severina (Irmã Maria das Neves), in memoriam, religiosa da Congregação de Nossa Senhora de Lourdes (Lourdinas); Ivan (in memoriam), funcionário público, era radicado em Fortaleza; Hosana (Irmã Hilária), in memoriam, religiosa da Congregação Franciscana, era radicada no Ceará; Maria de Lourdes (in memoriam), professora aposentada, era radicada em João Pessoa; Ivete (in memoriam), funcionária dos Correios e Telégrafos, era radicada em João Pessoa e Evaldo, morou no Recife e atualmente radicado em Belém do Pará.
Para mostrar sua timidez, na época estudante do Colégio das Dorotéias de Alagoa Grande, Maria do Carmo nos fornece o seguinte depoimento:
Certa vez, estava eu em classe, quando uma colega (Rosete Ramalho), que se sentava ao meu lado, viu a minha aliança na mão direita e logo bradou para a professora e religiosa, Soeur Reis, que eu havia noivado e que estava escondendo a aliança. Por conta disso, como o colégio não aceitava alunas que fossem noivas, logo, tive que abandonar o convívio com as professoras e colegas. Devido ao meu bom comportamento, as religiosas ainda permitiram que eu concluísse o semestre, o que não aceitei. Fiquei envergonhada de ter escondido a aliança...
Pouco tempo depois, ela se casa com o seu amado...
Indo viver na capital do Estado da Paraíba, logo começou a se ocupar da casa, do marido e dos filhos que iam surgindo.
Narrando sua história de vida, Antônio Espínola Navarro inicia suas memórias relembrando a casa em que nasceu, na Rua da Palmeira. Em seguida, o seu pai (Juca Navarro) mudou-se para a Rua da Lagoa da Frente, hoje Rua 13 de maio, cuja casa era de tijolo e telha. Segundo ele, naquela época, poucas casas de telhas existiam naquela rua, pois a maioria delas era de palha. A casa era geminada com outra, típico da época, denominada de parede- meia. Mais tarde, o meu avô comprou essa casa, aumentando, assim, os aposentos da antiga.
Os primeiros estudos de Antônio (aos 07 anos de idade) foram no Colégio de Nossa Senhora das Neves, educandário religioso dirigido pelas Irmãs francesas da Ordem da Sagrada Família, e tinha como fundadora Sainte Emilie de Rodat. Na 1ª fase de existência, nos idos de 1858, quando foi fundado no governo de Henrique de Beaurepaire Rohan (de 1857 a 1859), o Colégio das Neves teve pouca duração. Na 2ª fase, que remonta aos anos de 1895, o 1º Bispo da Diocese da Paraíba, Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques (1855-1935) inaugura-o e, em seguida, entrega-o à direção das Damas do Coração Eucarístico, e na sua 3ª fase, em 1906, as religiosas da Sagrada Família assumem a direção do estabelecimento.
Na época, o ensino era só primário, os alunos ao concluírem faziam um exame em outros estabelecimentos (Colégio Diocesano Pio X ou Lyceu Parahybano) a fim de cursarem o curso ginasial. Segundo o memorialista, não chegou a concluir o primário porque o ensino ficou exclusivo ao sexo feminino.
Logo depois, o pai de Antônio (Juca Navarro) o matriculou no Instituto Spencer, conceituado educandário desta capital, que já fora coordenado pela alemã Maya Fauser, e cujo proprietário-diretor, Professor Barros, mantinha alunos internos, semi-internos e externos.
Estudou, com seus irmãos, durante dois anos. Após esse período eis que a mensalidade aumentou bastante, o que tornou inviável para as posses do pai, uma vez que tinha 10 filhos para educar.
Por conta disso, ingressou na Escola Normal, também conceituado estabelecimento de ensino público, situado na Praça João Pessoa. Atualmente, Tribunal de Justiça da Paraíba.
Como Antônio conheceu Maria do Carmo - vejamos o que ele narrou:
Depois de uns quinze dias aproximadamente, que eu havia chegado, estava na porta do escritório quando vejo uma mocinha bem bonitinha, acompanhada de uma senhora que parecia ser a mãe dela, no lado da calçada que ficava o escritório. Dirigiam-se ao centro da cidade. A senhora ao passar por mim cumprimentou-me com um cordial bom dia, a mocinha não olhou para mim. Não censurei aquela atitude, era natural, também não a conhecia. Aconteceu, porém, que a partir daquele momento eu tinha simpatizado muito com ela e uma coisa me dizia que esta será sua futura esposa.
Logo em seguida, chamou Leó (que trabalhava no escritório) e indagou se conhecia aquela mocinha. Tendo resposta afirmativa, recebeu todas as informações elogiosas a seu respeito. Tratava-se de uma jovem, de apenas de 16 anos de idade, muito calma e de uma educação esmerada. Nunca tivera namorado.
Continuando a descrição de Antônio:
Fiquei ansioso esperando pela volta dela para casa. Demorou um bom tempo, mas, finalmente, avistei que regressavam. Quando passaram por mim, não tirei os olhos dela, mas não me deu bolas. No dia seguinte, Leó me disse que havia dito a Maria do Carmo que tinha um rapaz, chegado a pouco na cidade, que tinha simpatizado muito com ela e que a mesma perguntou quem era este.
Leó, a essa altura, já teria dado todas as informações a respeito dele. As aulas no Colégio do Rosário já haviam começado. Maria do Carmo cursava o 1º ano do Curso Normal, passando diariamente 2 ou 3 vezes em frente ao escritório onde Antônio trabalhava.
Prossegue a narração de Antônio:
Durante uns 3 dias nem bom dia me dava, no 4º dia me cumprimentou com um “bom dia” muito respeitoso, não dando nenhuma olhadela... Finalmente, no 5º dia, passou por mim e me deu um bom dia mais sorridente e quando chegou no fim da rua, na passagem da ponte, deu uma quebradinha... Neste mesmo dia, fui ao seu encontro, na volta do colégio. Se o seu pai viesse a saber não gostaria, porque o lugar era pequeno e todo o mundo ia comentar que ela diariamente saia do colégio acompanhada de namorado. Achei justa e prudente as razões apresentadas e passamos, então, a comunicarmos por meio de bilhetinhos, entregues ou recebidos por ocasião da passagem para o colégio."
Vários amigos contemporâneos ajudaram no início do namoro:
Octalice Coutinho, casado com Nevinha, conhecida de Antônio; Alcides Rocha, casado com Dona Elinor, moravam perto da casa de Gedeão e Artemísia; Leodegário Nunes (Leó) e Áurea.
À noite, duas a três vezes na semana, Antônio e Maria do Carmo iam conversar na calçada das casas desses amigos.
Antônio Espínola Navarro e família

Pedido de Noivado e Casamento
![]() Convite de Noivado - 24/04/1932 | ![]() Noivado - 24/04/1932 | ![]() Casamento - 07/01/1934 |
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Acompanhem a narração de Antônio:
Quando eu chegava à casa de Maria do Carmo sempre já a encontrava, sentada, conversando, às vezes de pé. Sendo raras as vezes que ela chegava depois de mim. As prosas eram em comum, eu não conversava somente com ela, acontecia até a D. Artemísia estar presente.
Passados alguns meses nessa situação, sendo difícil conversarem a sós, Antônio resolveu pedi-la em casamento. Também lhe preocupava ser chamado, a qualquer momento, pelo chefe Dr. Lupércio de Souza Branco a voltar para a capital, em virtude da usina que Antônio fiscalizava estar prestes a terminar o processo de descaroçamento e a respectiva prensagem do algodão da safra.
Vejamos o seu depoimento:
"Então falei com Maria do Carmo, expliquei tudo, conversando durante uma caminhada depois da Missa no domingo, na Capela do seu colégio. Estava acompanhada de D. Nenen, casada com o Sr. Franklin, enfermeiro da usina e que, também, exercia as funções de “médico” para os pobres. Depois de tudo explicado, ficou acertado pedi-la em casamento através de uma carta, porque, segundo ela tinha muito acanhamento do pai e tinha certeza quando ele a chamasse e perguntasse se queria casar comigo, ela choraria, não podendo mesmo falar.
Então, no dia combinado, eu mandava, em mãos, sendo o portador o Sr. João Martins, funcionário da Firma e meu amigo, que se ofereceu para levar a carta ao Sr. Gedeão Amorim." (pai de Maria do Carmo)
Vejamos o pedido de casamento, através da carta:
Alagôa Grande, 24 de abril de 1932.
Snr. Gedeão Amorim.
Respeitosas saudações
Devido ao meu grande acanhamento e também da minha falta de prática, resolvi lhe fazer esta carta e não fallar pessoalmente como pretendia.
O meu único fim, que me traz a presença do Snr., por meio desta, é o seguinte: chegando aqui nesta cidade, e sympatizando sua destincta filha Maria do Carmo, pela sua boa educação e exemplar comportamento, dediquei-me uma sincera e bem intencionada amizade, a qual Ella correspondeu e que até hoje, graças a Deus, conservamos.
Agora, tendo de ir para a Capital, nestes poucos dias e querendo que esses laços de amizade sincera que nos uniu o destino, continuem com mesmo ardor, era precizo que ficássemos nos correspondendo, o que seria impossível, se não levasse ao conhecimento do Snr.. E sendo assim, faço sciente que tenho as melhores intenções para com a sua estimada filha e por esse motivo, venho respeitozamente, pedi-la em casamento.
Quero também explicar ao Snr., que não pretendo casar logo, uma porque sou pobre e outra, porque meu ordenado ainda é pequeno para enfrentar tão grande e sublime responsabilidade, mas prometendo que irei trabalhar com afinco, para que nestes dois ou três anos possa em graça de Deus, poder realizar.
Sou muito môço e ella ainda mais, logo podemos esperar este tempo muito bem.
Sobre minha conducta, é esta que aqui tenho demonstrado durante os meses nesta Cidade, sem vício de espécie alguma.
Sem mais, aguardo com urgência a resposta, certo de que serei atendido.
Com respeito e consideração, subscrevo-me:
As. Antônio Espínola Navarro
Interessante é que Antônio registrou um fato histórico muito importante ocorrido na Bahia, mas que teve grande repercussão na Paraíba e no Brasil:
No dia seguinte, ao enviar a carta, aproximadamente às 10:00 horas, alguém do escritório comunicou uma notícia, enviada por telegrama ao Prefeito de Alagoa Grande transmitindo o falecimento de Anthenor de França Navarro (1899-1932), Interventor Federal do Estado da Parayba (de 1930-1932), que, após 17 meses de governo, teve a vida ceifada, ainda jovem e solteiro, por um trágico acidente aéreo, ocorrido em Salvador/BA, no dia 26 de abril daquele ano, quando, na companhia de José Américo de Almeida (1887-1980), Ministro da Viação; do Engenheiro Arthur de Lima Campos, do Serviço de Obras contra a Seca e do radio – telegrafista, José Braz, viajava para o Rio de Janeiro, capital federal na época, a fim de conseguir recursos para a seca que assolava a Paraíba. Era Presidente da República Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954).
A causa do acidente foi motivada, segundo pesquisas que fizemos in loco, na tentativa de elucidar o acidente, pela pouca visibilidade no local, o que provocou a queda do avião. Segundo um pescador que estava pescando na hora exata do acidente, ele nos revelou que o avião caiu no lugar onde tem uma pedra. "Eu tava pescando de rede. Agente saiu correndo com medo..."
Anthenor era primo legítimo de Antônio Espínola Navarro.
Passados oito dias do envio da carta ao futuro sogro, e não obtendo resposta, procurou–o no seu estabelecimento comercial para saber algo a respeito. Então, o futuro sogro explicou que havia escrito ao senhor Juca Navarro (pai de Antônio), comunicando a intenção de Antônio de noivar com sua filha, Maria do Carmo, e que estava de pleno acordo, porque via nele qualidades excelentes para casar com a sua filha.
À noite, o noivo foi fazer a primeira visita oficial aos futuros sogros. Conversou muito com a noiva e, em seguida, tirou a medida do dedo para confeccionar as alianças.
Além da aliança de noivado, Antônio lhe deu foi um cordão de ouro como presente, comprado a um vendedor ambulante pelo preço de R$ 60$00 (contos) que para a época era bastante caro.
Antônio narra detalhes interessantes:
"Poucos dias depois do noivado, estava eu de regresso a João Pessoa, com a maior saudade do mundo, tinha necessidade porque precisava me preparar para o casamento. Aqui eu podia fazer economia, pois não pagava hotel. Ficamos, então, nos correspondendo, escrevendo 2 cartas por semana, sem relaxar. De três ou quatro meses eu viajava para Alagoa Grande, a fim de visitá-la e era por ocasião do carnaval, festas juninas, data do aniversário dela, 3 de setembro, Natal e Ano Novo. Assim, ficamos separados, com a maior saudade, até o casamento. Durante esse período fui comprando, aos poucos, os utensílios para nossa futura casa. No dia 7 de janeiro de 1934, com 1 ano, 8 meses e 13 dias de noivado, estava realizando o meu grande sonho da minha vida, casando com a minha querida Maria do Carmo, cumprindo com antecipação a minha palavra empenhada na carta de casamento."
Na véspera das Bodas, o noivo viajou para Alagoa Grande levando o vestido da noiva, encomendados pela sogra, bem como o chapéu (que estava em uso). Ambos foram confeccionados por modistas famosas da Capital. Antônio contratou um carro de praça (pertencente ao parente Severino Serrano) para trazer os nubentes e o fotógrafo João Pinto Serrano (também parente) de Alagoa Grande para João Pessoa.
Antônio não descreveu a cerimônia propriamente dita, mas citou os seus padrinhos de casamento, que foram: o Irmão Aluísio Navarro e a esposa Olga; Leodegário Nunes (o amigo Leó) e Áurea.
Após o casamento, um lauto almoço foi servido aos parentes e convidados. Logo em seguida, os recém casados viajaram para João Pessoa. onde fixaram residência na Rua Irineu Joffily, 280. Os cômodos da casa compreendiam 02 salas, 03 quartos, cozinha, etc. A decoração da mesma ficou a cargo das cunhadas Severina Navarro (futura Irmã Maria das Neves, diretora do Colégio de Nossa Senhora de Lourdes (Lourdinas) de João Pessoa e Olga Pinto Navarro.
Chegaram ao novo lar, aproximadamente, às 20: 00 horas, encontrando-o todo iluminado e decorado, inclusive com cortinas.
Os nubentes foram recebidos, com alegria, por diversas pessoas da família.



Álbum de Família
![]() Certidão de casamento | ![]() Casa dos pais de AntônioRua 13 de Maio, 565 João Pessoa, PB | ![]() Primeira residência após casamentoRua Irineu Joffily, João Pessoa, PB |
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![]() Placa da ruaRua Irineu Joffily, João Pessoa, PB | ![]() Casa na Av. Dom Pedro IIResidência Própria de Antônio e Maria do Carmo em João Pessoa, PB. |